da filosofia à ficção, retratando a realidade
comentar
publicado por santissimatrindade, em 20.08.08 às 00:04link do post | favorito

 

Arrotando pensamentos absurdos

Rastejando pela moita vejo um castor a bater uma punheta á chuva, entro no café ensopado á procura de sopa, tão insossa e angelical. No invólucro de uma lata, os pregos fazem sentinela e os parafusos fila para entrar. Na porta o rabequeiro escarra notas semiprateadas num chão de pó. És simplesmente feia!
O senhor dos aflitos e suas beatas fedorentas não param de me atormentar, as lápides do meu jazigo, estão prestes a rebentar de fúria. Serei cego ou tu eutanásia?
Sem paráfrase nem figura de estilo. Caramelos de fruta fritos em óleo são dissolvidos em cadáveres azedos e obras póstumas. Oiço sinos sob a cadeira de um barbeiro, ali, onde jazem punhados de cabelo outrora meu. Quem me faz um charro agora que tudo arde?
Há uma faísca azul que ao aproximar-se do vermelho, ilumina os corpetes e cintas de liga coloridas que animam aquela hora, as janelas de um bordel…e eu só queria uma sopa.
Um quarto para sair dele e descer á recepção, só pelo prazer de ver o escano reflectir a luz e o calor da lareira, só pelo prazer de cheirar as mantas esponjosas e sarnentas onde se aninham ninhadas de pulgas sobre tapetes rosa choque, comprados nos trezentos.
Depois do trabalho, alguns ainda permanecem no café, para adiar por alguns momentos, o regresso inevitável ao tédio conjugal, e sonhar que estão num bordel de quinta com adolescentes carentes e prontas a ser desfloradas em troca de algumas futilidades.

Texto e ilustração by jusis 2008.

 


comentar
publicado por santissimatrindade, em 27.05.08 às 00:48link do post | favorito

 

Teresa não era uma mulher qualquer! Teresa era a divina das meretrizes, sombreando-se por caminhos derretidos como ouro na sua forma mais pura, era mulher e mãe. Era a mulher!

Era mais que corpo, não era vender, era um patrocinio em que o seu ser deixava de ser seu e passava a ser comum. Era uma troca. Banal.

Falemos de trocas.

Até onde é capaz o errante humano caminhar para se sentir satisfeito, sem necessidades? Qual será o grau de satisfação máximo para a alma? Trocar é dar e receber. Trocar é comprar e vender. Trocar é jogar. Trocar é contratar. Trocar por um preço! Qual o valor que merecemos? Até que ponto estamos dispostos a ir?

Trocas era o que não faltava naquela mansão burguesa do séc XVIII. Teresa era mãe de 2 filhos, Jacques e Stephanie. Teresa era viúva de um conhecido duque da nobre invicta. Teresa era responsabilidade em si mesma e há muito que não deixava por menos o dom de ser protectora. Por vezes e para equilibrar o culto dos excessos e da boémia tinha que se ser um pouco astuta. As festas revolucionárias que os condes davam eu seu nome, e com seu dinheiro diga-se, não se pagavam sozinhas... Não era assim tão árdua tarefa...

Teresa foi capaz de corromper seus valores, não se sentiu satisfeita em seus desejos. Ela quis mais, quis melhor e quis mal... Foi o espéctro de toda a sociedade actual, quis emergir em toda a sua potência, quis se juntar á nata real. Não se vendeu! Concessionou...

É notório até onde somos capazes de ir e nada afectará a noção que o nosso valor nunca será suficientemente reconhecido. Não para nós! Não no passado. Não agora! Deixar para trás séculos de tradição aristrocática e cristã, educações ao nível da perfeição, prestigio puro só de ler o Sobrenome não foi fácil. Mas foi feito. Porque era menos penoso Teresa açoitar-se com os nobres do que vender as pratas da familia. Seria uma ínfame. Assim é apenas uma mulher. Do mais feminino que temos encontrado.

Somos capazes de tudo. Somos capazes do mal. Somos capazes do impensável. Sabe bem. É vertigem, é  velocidade. Por muito que tentemos padronizar toda a gente, seremos seres portadores do géne do poder, do estatuto, da competição, da ambição desmedida. Somos capazes de matar e morrer, de roubar e depois desaparecer. Somos nós. E adoramos.

Teresa não era uma mulher qualquer! Teresa era a divina das prostitutas e gostava!
Não gostamos todos?


comentar
publicado por santissimatrindade, em 13.05.08 às 00:04link do post | favorito



 

Dentro daquela gruta  uma gota  esconde um segredo futuro…
E ali se cessa o desapropriar das suas cavidades, traída pela gravidade contrariada pelo atrito prolonga-se automaticamente libertando neblinas que lhe purificam a forma e explicam a sua existência.
Sinto na minha cavidade torácica picadas aveludadas que suspiram a falta de ar a rodopiar nos meus alvéolos. Até que finalmente decido poupar um pouco… Até musgo eu como ao jantar. Musgo ao jantar! A minha mente transfigura-se e entrega-me um manjar digno do Olimpo e num piscar de olhos esmago um caracol. Devoro-o em apenas três dentadas.
O meu campo de visão começa agora a encurtar-se, como se estivesse num palanque a recitar os pecados e a vergonha da incrédula sociedade em que nos tornamos, e no pico vertical de uma estalactite, aguardo impaciente por uma goteira que tenta enganar a minha sede com restos de humidade e água escapulida de caminhos secretos a que os humanos chamam de lençóis.
Por fim o meu metabolismo começa a não responder ao meu cérebro e vejo e no horizonte um tanque, de onde surge uma mulher com um pé a mancar e olhos vesgos que lacrimejam mel, que se vira e submerge como se fosse parte da água. Um baloiçar da terra manifesta uma ordem e a estalactite vem em direcção a mim trazendo-me a água saciando-me a sede vida e entrega-me a morte como se estivesse programado desde o inicio.


mais sobre mim
Novembro 2009
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
11
12
14

15
16
17
18
19
20
21

22
23
24
25
27
28

29
30


pesquisar no santissima
 
blogs SAPO