da filosofia à ficção, retratando a realidade
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publicado por santissimatrindade, em 10.11.09 às 20:32link do post | favorito



 

Eram seis da matina, o sino da abadia torturava e latejara-me o sono,
Dormi sobre Heitor, o abade da vila, tapete onde me estendi saciada.
Ele despertara comigo, tinha os lábios pintados de cio e espada afiada,
Pegou-me ao colo selvaticamente e deitou-me sob o altar de mogno.

O frio jazia lá fora, enquanto eu fui desvendada frente à virgem crente.
Depositei toda a minha fé no seu mastro, não fazia ideia do que era dor.
Benzeu-me o ventre com a maçaneta repleta de seiva benta por patente
De seguida, matamos o jejum, torradas com compota e manteiga primor.

Tinha teste de estudos sociais, por isso, fingi ter ido estudar com a amiga.
Ter um pai alcoólico e mamã em estupefacientes, facilita-me ser comida.
O pároco punha a batina na sacristia e sem me conter mungi-lhe a espiga.
Uma beata silenciosa entrou indignada e com intenção publicar a cantiga.

Chamou-nos de tudo, antes que Heitor a silenciasse na pia de água benta.
Rapidamente enrolou-se numa toalha do altar, o corpo da velha fedorenta.
A fornalha aquecia a caldeira e uma fiel em brasa deixava de ser avarenta.
-Mamã, faltei e fui-me confessar. Hmm, cheirou a chá de leitugas e menta.

Texto e ilustração: Aurélia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 23.10.09 às 21:19link do post | favorito


Liguei a televisão, alapei-me e meti dois à boca, o pêndulo da minha mente encontrara os prazeres do reino funji. Até que… Aqui vai:
-Olá! Eu sou o Cristo dos blogs, simplesmente omnipotente… - Dizia uma aldrabona que abria as golas armada em Messias. Era horrenda, vestia mal de cara e tinha uma crista galega que se descasava em pena. Roubou à grila uns óculos à Amália, não por causa da pinga, fora mesmo por mania e gosto fatigante. Bem, deixemos para trás a colecção Arrepios e pesadelos trimestrais, vou mostrar-me solidário com todos os que usam penico e menstruar numa caneca de porcelana.
Persiana abriu o frigorífico e comeu tuli creme fora da validade, não tinha bolor e estava tão cremoso… uma calamidade! Hum, as tardes que me deslumbrei com a língua em tuli creme… Tuli, Tuli, Tuli, Tuli creme! Que bombom no meu pão! Cheguei a besuntar-me com ele a ver o programa do António Sala, durante isso pensava em apertar o nariz do Júlio Isidro entre las piernas… O mais estranho de tudo, era o facto de apenas me excitar, se imaginasse tudo em espanhol … cosas de locas …yo adoraba una nariganga arrebitada. Foi a minha tara durante alguns meses, que terminou quando um narigudo engravatado me encheu os púbicos de muco nasal.
No fundo do tanque por entre os degraus da água fecundada, ainda existe sabão misturado com seiva e algumas moedas caídas do bolso da ganga. Lembro-me da música do anúncio dos tampões, a intrujona e seus bacios fervendo em ácidos, despojadas de inteligência e espojadas no relvado mirando o vazio das nuvens.
Sacos pretos transportam três humanos em puzzle - a consequência do cãozinho, que era um simples lambe cricas. Que ternura de história… Uma mãe engolida em ciúme canino, decidiu podar os braços das filhas, dando vida ao plano do seu gato, que por sua vez havia subornado o cão com salsichas (do) Isidoro.
Nélia misturou enxofre no pó de arroz, deixando-o de tal maneira desvitalizado, a ponto de nem o Paião lhe pegar. O Milu do Tintim bem podia vir ajudar-me e a lamber o tulicreme que caiu no chão … baratas na gaveta da cómoda devoram as amêndoas do meu casamento. Esperei e dissequei mas não choveram sapos, simplesmente nevou ignorância. Hoje é como se dormisse ao relento.
Carlota vestiu-se para matar, telefonou a vários repórteres, depois esticou o pescoço afiou o olhar e recitou um hino aos delinquentes.
-Está na hora de os esmagar com migalhas! Ergam-se invés de serem dominados por vergas.
Pouso o copo já sem vodka, o comando cai e desliga a televisão. Senti um silêncio que vestia tronco nu vindo da cozinha, projectava flatulências que emergiam um eco por entre a porta aberta do frigorífico. Então percebi que a besta do meu marido chegava da rua, tão ou mais bêbado que eu, levantei-me e disse:
-Américo! És um carrasco, não tens nenhum respeito por mim, isto são horas de chegar a casa?
Eram 5inco da manhã e queria matá-lo!
 

texto: Aurélia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 04.10.09 às 02:40link do post | favorito

 

Eram quatro da manhã e silenciosamente decidi mata-la! Não por vingança, jamais seria pelo dinheiro. A razão era mesmo a sua inoportuna presença, coisa que não consegui aguentar mais. Nem um segundo a mais! Tudo aconteceu tão rápido, quando dei por ela, era justamente viúvo.
Parecia ter sido executado por um profissional. Fiquei admirado, como eu é que eu? Sendo uma pessoa tão normal, simplesmente cedi ao instante do instinto de forma tão intransitada. Puf… sem ter planeado fazia-me milionário e assassino simultaneamente.
Não havia sangue, era como se não existisse arma, apenas existia um corpo - ainda quente…. Rapidamente fui obrigado a encontrar uma justificação sustentável, sentia-me a vaguear pelas ruas da minha infância, derreti em mim um certo prazer, ao experimentar estes rasgos do evento inesperado.
Meditei …e decidi evocar o mito da morte durante o sono, fenómeno raro, mas está provada a sua existência. Poderiam fazer-lhe os testes que quisessem; autopsia; raio-X; até mesmo de ADN, seguramente nada que encontravam. Foi como um relâmpago – Lá estava ela… uma pedra entupida em pílulas. Então tive um gesto automático, nem sequer lhe toquei, a almofada fez restante. Serviço limpinho, poupou-me de ver sua cara mumificada ao despedir-se do mundo - assim terminou um casamento de quatro anos.
Não quis dormir, permanecia em mim um vazio triangular que emitia ausência de culpa. Todavia experimentava uma tremenda ansiedade de vida, os tentáculos matrimoniais despedaçavam-se entoando coros de liberdade.
Decidi chamar a ambulância apenas quando amanhecesse, passei o resto da noite agarrado a uma garrafa de Black Label, e enquanto planeava um futuro próspero chorava um luto entornado por goles de wysky.
Não saí do lado dela, eu era o Ali Baba que guardava o tesouro. O sol finalmente começou a espiar pelo vidro janela, então peguei no telefone e chamei os médicos.
- Américo! - Américo! – Ouço uma voz forte que me chamava e acordei arrotado na mesa do café onde me penduro todas as noites. Era o dono, preparava-se para fechar e disse-me:
-Vai p’ra casa homem, a tua mulher já ligou para aqui quatro vezes.
Recolhi-me subindo a ladeira inundada por garrafas vazias, a meio virei-me e acenei, depois segui lentamente para a minha prisão à medida que o relógio emitia as quatro badaladas da manhã.
 Que sonho sublime, além de rico ainda era viúvo… bendita a cerveja.

“4uatro da manhã”

Por Aurélia maia

 

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publicado por santissimatrindade, em 21.09.09 às 03:27link do post | favorito

 

Para quê? - Triturar o mundo inteiro em palavras,
colher remoinhos de verbos e em cortejo levantar o nojo.
Coragem rapaz! E bem a preciso, não para vos enfrentar,
todavia planeio estacar tudo e sucumbir-me a mim próprio,
mas para acalmar esta dor que não existe mas persiste.

Nesta vida não há tempo para nada,
e nada nela se faz, senão gastar tempo.
- O Tempo somos nós que o fazemos!
Já dizia o velho eremita do Cagigal - café lá rua,
pobre homem, passava as horas a engendrar e ditar ladainhas,
enquanto vendia cerveja e a clientela lhe esvaziavas as grades.
Sem se aperceber o velho misturava finanças com filosofia,
porém não me parecia pessoa feliz,
e vá-se lá saber porquê,  acabou por se enforcar um dia.

Têm-me abreviado;
uns tomam-me por evadido,
outros por  evadido de virtudes,
há quem ache que sou drogado,
e só para ti linda Beatriz, fui um achado.

Podíamos ter-nos casado,
se não me tivesse cansado.
Seria eu mais infeliz que aquilo que sou?
Certamente que não!
Mas na vida não tanto teria contraste,
como a malagueta se não fosse o picante.

Não quero viver.
Odeio a ideia de morrer,
o melhor mesmo seria não ter existido.

 

Texto: Osvaldo Souto

 

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publicado por santissimatrindade, em 08.09.09 às 03:41link do post | favorito

 

Com o salto, trepei os paralelos do adro da igreja,
neste havia malvas e fionho para espantar a inveja.
Entrei na casa do senhor e benzi-me com a bendita,
nas paredes do templo fui observada como maldita.

Corina dirigiu-se ao altar e leu S. Paulo aos Coríntios,
Orou frente ao padre e xales negros lamentavam os ímpios.
Ao centro S. Miguel petrificado degolava um demónio,
mais cólera no olhar, tinha o seu compatriota Sto. António.

Os mantos do altar reluziam luxúria e sustinham pudor,
As santas, cobertas de vestes fúteis, suspiravam de dor.
Cristo, estendido, nas costas do sacerdote, parecia um cabrito,
Pronto para a festa, para forçar a fé ao soar de um grito.

Deixando-me de fanatismos, vou directa ao que interessa.
Na ala dos homens, olhares devoradores pediam-me remessa.
Descobri na missa um mercado, do nada, angariei vários clientes,
Pedem-me afecto e moinhos de prazer, mas raramente são crentes.

 

Texto e ilustração: Aurelia Maia
 

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publicado por santissimatrindade, em 01.09.09 às 22:43link do post | favorito

 

-O que fazem os cristais na cristaleira?
Retruca a dona mais uma vez para a sua empregada.
-Desculpe Dona Mali, é força d’ hábito, prometo que não volta a acontecer. Está bem assim Senhora?
Respondeu Vanda sorridente para disfarçar o olhar rasurado.
- Eu já disse que os cristais se guardam no armário! A cristaleira é lugar de peças que realçam o seu contraste como o meu Fabergé… contudo desta vez “passons” como dizem os franceses.
 Vanda arruma os cristais disfarçando o seu ar de sublevação e retira-se para terminar os seus afazeres.
Dona Mali afigurava-se como a reencarnação da futilidade. Tinha uma rotina orquestrada por manias e era desprovida de intelecto. Mali dependia de todos os que a rodeavam, vivia num matrimónio de quase duas décadas, no qual decidiu não ter filhos, para preservar o corpo.
Inácio, o esposo, bem ansiava por herdeiros, mas ela tanto adiou, que hoje é assunto fora de questão. Vanda era o seu ponteiro de equilíbrio entre a vida real e o fútil. Mas esta detestava o seu trabalho e acima de tudo, abominava a patroa. Mas sendo ela filha de operários, que remédio tinha senão submeter-se aos caprichos de Mali.
Mali reclamava do pó ou da ausência deste, tanto adorava um prato como o detestava, umas vezes açúcar outras adoçante. Tudo isto foi-se tornando repulsivo para Vanda e com o acumular de sapos engolidos, até que um dia acordou para si mesma e decidiu mudar de rumo.
Uma ninhada de tias reunia-se todas as quartas-feiras na mansão de Mali, espojadas na sala, tomavam o chá e dissecavam a vida alheia, logo sobrava mais trabalho para Vanda.
Numa dessas quartas, estava Vanda na cozinha a preparar o chá debruçada sobre a mesa, e após uma curta reflexão…  pegou no bule pousando-o no chão em frente a seus pés. Seguidamente abaixou-se, levantou a saia e desceu as cuecas de renda discretamente.
- Aqui vai chá. - Segredou ela consigo ao despejar a sua urina perpendicularmente até meio do bule.
Minutos depois anunciou ela com um ar sorridente e cheio de simpatia.
- Está na hora do chá …receita especial da minha madrinha.
 Mali e as tias escoaram o chá como se fossem esponjas, sem suspeitarem do mijo que lhes entrara estômago adentro. O episódio repetiu-se muitas vezes, de modo que, o transtorno que era as quartas, tornara-se agora no passatempo de Vanda. Como ela ria e zombava ao embriagar as tias de mijo.

Certo dia Mali teve mais uma discussão com marido. Vanda, enquanto arrumava, ia escutando tudo que se apregoava.
-Já não dialogamos, só debatemos …e há mais de três meses que não fodemos, se continuar assim, arranjo uma amante. Resmungava Inácio.
Mali sorria e chamava-lhe patético, com um ar de desdém.
Inácio sai disparado do quarto e vai até à sala onde encontra Vanda a arrumar, esta diz-lhe que ele está muito tenso, oferecendo-lhe um rum.
 Depois de quatro doses Inácio ficou mais calmo. Vanda pergunta-lhe se ele quer uma massagem nos ombros para relaxar. E Inácio olha Vanda de cima abaixo dizendo:
-Sim, massaja-me os ombros e tudo que achares que preciso de massajar.
-Está bem senhor, sente no sofá e relaxe.
Disse Vanda, que começou por tirar-lhe a camisa e massaja-lo nos ombros. Inácio tinha um ar mais descontraído e à medida que a massagem ia decorrendo guiou Vanda através do seu olhar rumo até à cintura. Esta enxergou imediatamente o que ele queria e massajou-lhe o membro ainda dentro das calças. O patrão enlouqueceu com aquele gesto, a ponto de lhe sugerir que usasse a língua para terminar a massagem, Vanda assim o fez. Momentos depois foram para o quarto da empregada, Inácio estava entusiástico, Vanda despiu-se e vestiu-lhe o preservativo com a boca, pondo o homem cada vez mais fora de si. Mali já dormia e Inácio com meia dúzia de estancadas despejara o jejum de três meses a seco. Depois do exercício, Inácio larga o látex cheio de esperma na lata do lixo, limpa-se e sobe as calças. Vira-se levando a mão à carteira sacando uma nota de quinhentos euros que oferece à empregada, ao dizer:
-Isto nunca aconteceu! Certo?
Ela abanou a cabeça consentindo e ele retirou-se para os seus aposentos. De relanço, Vanda foi ao lixo de onde saca o preservativo. Transportou-o com cuidado e despejou o conteúdo viscoso dentro de um tubo de ensaio que na bolsa tinha escondido. Abriu a porta do quarto e dirigiu-se à cozinha para guardar a relíquia no congelador.
Cerca de três meses passaram, e numa tarde de quarta-feira Inácio recebe uma ecografia acompanhada de um cartão que dizia “Parabéns já és papa” … foi comprar flores e correu rapidamente para casa, ao chegar encontra Vanda sentada no sofá, que ao por a mão no ventre lhe diz:
-Já tem meses, o preservativo deve ter furado, mas estou muito feliz graças a deus vais ser papá …ah já me esquecia, a Dona Mali fez as malas e foi-se depois de saber de tudo.
- Está bem assim senhor? Pronunciou Vanda pacata e rasa ao sofá, deixando Inácio pendulado entre a ventura de um primogénito e o desgosto que causara a Mali.
Mali sorria… e no espectro do seu rosto escondiam-se as candeias que outrora iluminaram inexoravelmente a sua mente e abriram cancelas ao prostíbulo no qual se tornara a sua vida.

 

Texto: Aurelia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 28.08.09 às 19:29link do post | favorito

 

Numa dessas noites, tinha eu pouco mais de treze, minha mãe tricotava uns carpins com a televisão ligada na 2. Teresa Guilherme num eterno feminino de dentuça aguçada, a apresentar debates onde nada existe que valha a pena ser dito. O triturar constante da conversa mole, seguia o lento desfiar da lã, para cá e para lá. Eu, revia pela milésima vez a colecção de calendários: David Hasseloff, Samantha Fox, Maddona, New Kids….
Na sala, à esquerda da mamã, estava a mana, toda esticada no sofá verde que era da avó, com os dentes da Teresa Guilherme reflectidos nos olhos arregalados de tanto ver televisão. Vindo do nada oiço um estrondo triplicado por três pancadas na porta.
“Quem è?” gritou sobressaltada minha mãe abandonando as agulhas e a lã sobre a mesinha para se dirigir à entrada. ”Couceira, abra a porta!” Mamã afectou surpresa, “Ah, é você Olímpia. A esta hora? Como está a menina Eunice? Morreu alguém? Entre!” Minha mãe sempre foi assim. Quando não sabe de que se trata, pensa logo em morte. Dona Olímpia entrou mais grave que nunca, trazia o olhar oblíquo, daqueles que parece que cortam quando pousados em nós. “O que me traz aqui é sério Couceira!”, mamã levou a mão ao peito,”Diga lá mulher por deus” Olímpia foi junto à janela, cogitar para a escuridão da rua:”Sabe o que é que se diz por aí? Não se fala de outra coisa…” “Sei, está a falar da Otilde que chegou da América?” atalhou minha mãe. “Não, estou a falar de outras modas, dizem que as nossas filhas andam aos beijos, mas que pouca vergonha é esta?” Olímpia deixara-se de rodeios. “E o que é que isso tem mulher, são crianças… “Não são beijos de criança, são beijos de língua e muito…e o mais longo, pelo que me disseram, durou minuto e meio”a mulher continuou “ Couceira, você tem uma filha em casa que é urgente tratar e por causa disso, também eu agora carrego a calamidade sob o meu próprio tecto”. Minha mãe empalideceu, levei-a pela mão até à cadeira, toda ela tremia. Olímpia bateu com a porta mas não sem antes decretar a devida distância a manter entre as nossas famílias. Corri à cozinha a buscar um copo de água para a mamã onde encontrei minha irmã, morta, inerte sobre uma poça de sangue vivo com os pulsos abertos.
Mas o que me martirizava era a ideia de nunca mais poder beijar Eunice.
 

Texto e ilustração: Aurélia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 13.08.09 às 18:02link do post | favorito

 

A noite esmorecia-se, reflectindo esguichos de luz que iluminavam os quatro quadrados de uma janela suada de borboto. Um galo canta até se esganar, entretanto vejo atravessar por entre a pálida luz um vulto esboroado e descontínuo. Uma perra farta-se de regougar e um forasteiro de ar cândido apanha as beatas que vão manando pelo chão.
Caminho passeio abaixo, e para meu pasmo, avisto numa ventana entreaberta, uma jovem de gatas, com a cara imunda a escorrer pedaços de dióspiros que esta saboreava sofregamente como porcos a chafurdar na escória, enquanto um macho lhe executa um botão rosa. …São gemidos de cadela que povoam a cidade, umas laureiam os xales, enquanto as mais artistas derramam sobre o chão vómitos de prurido burguês.
Ao passar num pátio, vejo uma matilha de catraios que atacavam com carrapitos uma miúda sardenta de cabelo às riças e purpurinas dentais, pobre menina que tanto bramia.
 Desço uma rua repleta de preservativos viscosos que decoravam o chão como se fossem pega monstros, as paredes pareciam com as dos lavabos de gentalha, mas com um toque pós-moderno decadente… Que gente! Conforme afundava na viela… Ia topando avestruzes e patetas em sintonia simbiótica, entre prazer e narcóticos, avistavam-se a vomição catapultada de um novo mundo submerso. Continuando rua abaixo, na varanda, padecia a pobre Marília, desgraçada, a sua vida era sintonia nas línguas de vadias da vizinhança. Ficou amante do cinto de cabedal que dera de presente ao marido, diariamente o sentia nas costelas … seus gritos entoavam tão intensamente, lembrando os sinos da catedral que aspiram por virgens negras.
O padeiro leva um saco de farinha ao sapateiro, este troca-o por um envelope a um engenheiro de fato esverdeado. As latas de coca cola sobressaiam na prateleira de uma confeitaria, conjugando com vulto de uma mulher ensopada e desprovida de beleza …pobre criatura… espalhava a tristeza pelo esplendor de uma avenida, um autentico acto final de tragédia grega.

-Não existem pobres! Só imbecis!
 Exclamava um sem abrigo ao roubar uma gasta senhora que passeava a sua bolsa e era arrastada pelo seu pulguento. Um polícia tenta intervir, mas é interceptado por uma carrinha que o projecta em direcção à vidraça de um restaurante derrubando o quadro de menus do dia. Isabel deixa o pingo a meio e vais cuscar a concorrência …uma mariposa dissimulada! Pois apesar do seu ar de piedade, desabotoa dois botões da camisa e arrisca sobressair à imprensa. Zaida de orelha em pé, largar o secador e pendura a cliente que se prepara para uma tarde rosada no motel com o cunhado, este e o engenheiro gargalham enquanto se drogam e vêm os vídeos íntimos dele e da cunhada.
 Pássaros passam como fuzis, mas de que fogem? Não bebi …mas sei que vi. Ahahahahah …estou sem ar …não desmaio mas é como se acumulasse camadas de dor uma a uma e não as sofresse. ...Que pavor, que paz …que tormento. E foi mesmo! Durante uns segundos deixei de sentir o corpo. Provavelmente do excesso de nicotina e outros resíduos. Tanta coisa ou nada.
Adoro rosbife de vaca, mas choro ao ver arroz de pato.
Sádico? Trágico? Ou espectador?
Tudo circula e transmuta em seu louvor!
Tudo em torno de perdigueiros que se escoam no mato.
Para assingelar,  basta coçar a vista,  que lhe caia a casa abaixo, quero lá saber!
 É como se nada tivesse acontecido.

Este texto é uma homenagem a Bettie Page .

 

Texto e ilustração: Aurélia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 07.08.09 às 03:02link do post | favorito

 

Sentada na tribuna avisto ninhos negros de água benta,
a vomitar heresias de tão empanturradas de cera.
Na janela ao lado, Cândida espreita atenta,
Presumivelmente até o seu cão a deixa á espera.

Como é amargo passar a rotina inundada em cio.
O afazer converte-se em peva, e …olá evasão,
Afago com timidez nas coxas aqueloutro rio.
Leviandade é não poder seduzir o patrão.

Minha mãe a todos assevera que não caso,
Para meu consolo ao menos não acabo sufocada num vaso.
“Deixa a loiça mulher e anda para cama para te montar”,
Parece que ainda ouço, Deus o tenha, o meu pai a rezingar.

Trechos graciosos e vindos do talho deixam-me à cuca.
Apenas quero um sujeito que me massaje a nuca.
Recebo padres, presidentes e ontem dei banho ao coronel

…Porque Entre a virtude e o altar …prefiro a santidade do bordel.


Texto e illustração: Aurélia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 29.05.09 às 02:17link do post | favorito

 

ARkin Apresenta

Papoilas ardem incandescentes como livros no esmigalhar conceito da nossa estrada.
Quaisquer que fossem os indicadores, estavam encobertos pelas raízes de um matagal.
E que venerante e coagulada presença é tão idónea?!.
Coágulos, Coágulos que esponjam sua petrificação e afim de se desfazerem no entardecer, como um nevoeiro implantado frente a nós. Avista-se então uma membrana plasmática que transparece o seu apodrecer cristalino.
Anáforas! Anáforas! Odeio anáforas que me deglutem afim de se transformar em epístolas.
Ai e as epiforas! Epiforas! Renego às epíforas, todas elas tangentes ao meu pensamento que se encontra transversal a estas.
É medo esse desassossego que ruge dentro de um cântaro de água e nos berra ao ouvido: Para! Avança! Prospera! Mata! Confunde ou late!,  Abre-se um rasgo no ar e não ouvimos nada a piar senão fragas e rochedos que esconde uivos de um lupum solitário. Conquanto laminadas de água apressadas e em massa, torna-se no contemplar da minha visão, acariciando um cenário de pegadas incandescentes, como a cauda de phoenix ao projectar-se.

 

o meu ego está:

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