Varandas, polidas com neve, manipulam a temperatura até nos regar com uma brisa tremula, revestindo-nos de um gélido Inverno.
Lénia continua empoleirada na varanda, como se uma galinha no poleiro, que automaticamente foge ao ver nevoeiro que se avista trazendo consigo morte e desassossego.
Vultos rondam lá fora na penumbra, pelo menos na cabeça do pequeno Izidro ao ouvir zumbidos ciclónicos, que dominado por um sentimento de pânico esconde-se dentro de um baú acabando por sufocar.
Carma, uma virgem estupidamente frustrada e desenxabida, masturba-se com bocados de velas frente a uma foto de Salazar.
O relógio da igreja conta 6 horas pela segunda vez, no dia, ao mesmo tempo Hermínia , deitada na cama dá o ultimo suspiro, deixando de pertencer ao mundo dos mortais.
Na serra, um cordeiro envenenado pelo pastor, serve de banquete para um casal lupino que lhe tinha dizimado o rebanho.
Na casa paroquial, o padre descansa depois de uma hora intensa de sexo anal com o sacristão, que acreditava estar a cumprir a merecida penitência após a confissão.
E o Presidente da Junta conta os tostões que roubou do povo, antes de ir aquecer a cama da sua adorada filha mais nova.
O inverno é como uma sociedade que está a cair aos pedaços, frio e dissimulado.