Dentro daquela gruta uma gota esconde um segredo futuro…
E ali se cessa o desapropriar das suas cavidades, traída pela gravidade contrariada pelo atrito prolonga-se automaticamente libertando neblinas que lhe purificam a forma e explicam a sua existência.
Sinto na minha cavidade torácica picadas aveludadas que suspiram a falta de ar a rodopiar nos meus alvéolos. Até que finalmente decido poupar um pouco… Até musgo eu como ao jantar. Musgo ao jantar! A minha mente transfigura-se e entrega-me um manjar digno do Olimpo e num piscar de olhos esmago um caracol. Devoro-o em apenas três dentadas.
O meu campo de visão começa agora a encurtar-se, como se estivesse num palanque a recitar os pecados e a vergonha da incrédula sociedade em que nos tornamos, e no pico vertical de uma estalactite, aguardo impaciente por uma goteira que tenta enganar a minha sede com restos de humidade e água escapulida de caminhos secretos a que os humanos chamam de lençóis.
Por fim o meu metabolismo começa a não responder ao meu cérebro e vejo e no horizonte um tanque, de onde surge uma mulher com um pé a mancar e olhos vesgos que lacrimejam mel, que se vira e submerge como se fosse parte da água. Um baloiçar da terra manifesta uma ordem e a estalactite vem em direcção a mim trazendo-me a água saciando-me a sede vida e entrega-me a morte como se estivesse programado desde o inicio.