Na 7ª arte de Israel ao Brasil
... Sem qualquer motivo ou razão substancial dei comigo a pensar:
Mesmo sendo capaz de não faze-lo. Não vou deixar de te ignorar, ainda que seja postumamente.
Em véspera de Óscares e Fantasporto à vista já em alto mar, o cinema não poderia contar com melhores dias. Uma overdose de filmes tomou conta do meu tempo livre, arranjando tempo livre onde não havia, de modo que a vontade de escrever transformou-se num acto compulsivo e devorador, ficando sem oportunidade de escrever.
Poderia escrever por exemplo sobre o encanto e toda a beleza de Waltz With Bashir (Valsa com Bashir), uma espécie de mockmentary de animação autobiográfico onde o Realizador tenta lidar com seu trauma de guerra, devido a sua participação como soldado israelita na guerra do Líbano e nos massacres de Sabra e Shatila em 1982.
Escrito e realizado por Ari Folman, o mesmo de Made in Israel, um trabalho sublime desde a escolha os tons e cores na animação à banda sonora envolvente, como também ao realismo político do argumento que denuncia a política de Israel contra o povo palestino. Aquele que é capaz dos filmes mais originais de sempre.
Deu-me também vontade escrever sobre Choke, um filme americano independente e muito peculiar, baseado no romance de Chuck Palahniuk , o mesmo escritor de Fight Club .
Choke serviu de pretexto para Clark Gregg se estrear como realizador, sendo o argumento a cargo do mesmo. O filme conta a historia de Victor Mancini (interpretado pelo grande Sam Rockwell), um homem viciado em sexo, que frequenta um grupo de apoio a viciados sexuais e pretende abrir um restaurante afim de conquistar a simpatia e algum dinheiro para cuidar da mãe que se encontra no hospital.
Choke é um drama cheio de sarcasmos e simultaneamente é uma comedio-aventura bizarra, mas sobretudo uma experiência recheada de insanidade com um resultado muito satisfatório.
O filme sobre o qual me apeteceu escrever foi Estômago uma comédia vinda do Brasil. É realizado e escrito por Marcos Jorge o mesmo de Corpos Celestes.
Estômago retrata a história de Raimundo Nunato homem pobre e de pouca instrução recém-chegada do interior à cidade para tentar a sorte. Sujeitando-se a trabalhar num "botequim", ele conhece uma prostituta, consegue um emprego como cozinheiro de um restaurante italiano da alta mas acabando na prisão.
Estômago é filme genial, com um enredo perfeito, que mistura comédia e crime salteado com drama. Uma viagem pela gastronomia italiana e pela arte de bem cozinhar, alternada com a vida de Nunato na prisão. Uma longa-metragem cheia de situações hilariantes, deliciosamente maliciosa e audaz, que acaba por nos surpreender com um argumento muito bem condimentado e ambientado numa banda sonora instrumental italiana para acompanhar a cozinha. Imperdível.
Por fim, vou falar-vos daquilo que realmente me impressionou nos últimos tempos, Chama-se Capitu e é uma das ultimas mini-séries da Tv Globo. Feita a partir do romance Dom Casmurro, uma das mais aclamadas obras de um dos maiores escritores brasileiros de sempre, Machado De Assis.
Capitu é como se fosse um livro em formato de Mini-série, com um narrador sempre presente e omnisciente, que usa um português muito cuidado com um vocabulário bastante rico, e com frases polidas ao pormenor, é como música para a nossa mente e um estímulo para o nosso intelecto.
O Tempo é controlado pelo narrador, fazendo pausas sempre que é necessário acentuar algum pormenor, ou fazer comentário extra, mas tudo isto feito de uma forma que parece que estamos a ler um livro, sendo a palavra leitor é citada varias vezes.
Capitu mistura teatro com ficção, antigo com moderno, sec. XVIII com a musica dos Beirut, Janis Joplin , até Sex Pistols. Uma obra sublime com uma produção à altura. Uma das grandes surpresas deste ano.