Para quê? - Triturar o mundo inteiro em palavras,
colher remoinhos de verbos e em cortejo levantar o nojo.
Coragem rapaz! E bem a preciso, não para vos enfrentar,
todavia planeio estacar tudo e sucumbir-me a mim próprio,
mas para acalmar esta dor que não existe mas persiste.
Nesta vida não há tempo para nada,
e nada nela se faz, senão gastar tempo.
- O Tempo somos nós que o fazemos!
Já dizia o velho eremita do Cagigal - café lá rua,
pobre homem, passava as horas a engendrar e ditar ladainhas,
enquanto vendia cerveja e a clientela lhe esvaziavas as grades.
Sem se aperceber o velho misturava finanças com filosofia,
porém não me parecia pessoa feliz,
e vá-se lá saber porquê, acabou por se enforcar um dia.
Têm-me abreviado;
uns tomam-me por evadido,
outros por evadido de virtudes,
há quem ache que sou drogado,
e só para ti linda Beatriz, fui um achado.
Podíamos ter-nos casado,
se não me tivesse cansado.
Seria eu mais infeliz que aquilo que sou?
Certamente que não!
Mas na vida não tanto teria contraste,
como a malagueta se não fosse o picante.
Não quero viver.
Odeio a ideia de morrer,
o melhor mesmo seria não ter existido.
Texto: Osvaldo Souto