da filosofia à ficção, retratando a realidade
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publicado por santissimatrindade, em 28.08.09 às 19:29link do post | favorito

 

Numa dessas noites, tinha eu pouco mais de treze, minha mãe tricotava uns carpins com a televisão ligada na 2. Teresa Guilherme num eterno feminino de dentuça aguçada, a apresentar debates onde nada existe que valha a pena ser dito. O triturar constante da conversa mole, seguia o lento desfiar da lã, para cá e para lá. Eu, revia pela milésima vez a colecção de calendários: David Hasseloff, Samantha Fox, Maddona, New Kids….
Na sala, à esquerda da mamã, estava a mana, toda esticada no sofá verde que era da avó, com os dentes da Teresa Guilherme reflectidos nos olhos arregalados de tanto ver televisão. Vindo do nada oiço um estrondo triplicado por três pancadas na porta.
“Quem è?” gritou sobressaltada minha mãe abandonando as agulhas e a lã sobre a mesinha para se dirigir à entrada. ”Couceira, abra a porta!” Mamã afectou surpresa, “Ah, é você Olímpia. A esta hora? Como está a menina Eunice? Morreu alguém? Entre!” Minha mãe sempre foi assim. Quando não sabe de que se trata, pensa logo em morte. Dona Olímpia entrou mais grave que nunca, trazia o olhar oblíquo, daqueles que parece que cortam quando pousados em nós. “O que me traz aqui é sério Couceira!”, mamã levou a mão ao peito,”Diga lá mulher por deus” Olímpia foi junto à janela, cogitar para a escuridão da rua:”Sabe o que é que se diz por aí? Não se fala de outra coisa…” “Sei, está a falar da Otilde que chegou da América?” atalhou minha mãe. “Não, estou a falar de outras modas, dizem que as nossas filhas andam aos beijos, mas que pouca vergonha é esta?” Olímpia deixara-se de rodeios. “E o que é que isso tem mulher, são crianças… “Não são beijos de criança, são beijos de língua e muito…e o mais longo, pelo que me disseram, durou minuto e meio”a mulher continuou “ Couceira, você tem uma filha em casa que é urgente tratar e por causa disso, também eu agora carrego a calamidade sob o meu próprio tecto”. Minha mãe empalideceu, levei-a pela mão até à cadeira, toda ela tremia. Olímpia bateu com a porta mas não sem antes decretar a devida distância a manter entre as nossas famílias. Corri à cozinha a buscar um copo de água para a mamã onde encontrei minha irmã, morta, inerte sobre uma poça de sangue vivo com os pulsos abertos.
Mas o que me martirizava era a ideia de nunca mais poder beijar Eunice.
 

Texto e ilustração: Aurélia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 26.08.09 às 02:03link do post | favorito

 

M. Night Shyamalan realizador de The Sixth Sense (1999), The Village (2004), Lady in The water (2006), entre outros, está a rodar a adaptação cinematográfica do épico de desenho animado Avatar: The Last Airbender (2005). O argumento inicialmente escrito pelos criadores da serie: Michael Dante iMartino  e Bryan Konietzko, foi revisto e reescrito por M. Night Shyamalan para dar o seu toque.
A história segue as aventuras de Aang, um jovem sucessor de uma longa linha de Avatars , que deve por a sua infância de lado, para restabelecer o equilíbrio do planeta  e impedir a Nação do Fogo de escravizar as Nações da Água, da Terra e do Ar.
O elenco do filme parece reunir actores dos quatro cantos do mundo, tais como Cliff Curtis (Wale rider (2002)), Dev Patel (Slumdog Milionaire (2008)), Jackson Rathbone (Twilight (2008) S. Darko (2009)) e estreia de Noah Ringer no cinema no papel de Aang.
The Last Airbender arrasa-nos com as imagens do trailler fieis milimetricamente à serie, uma prenda para os fãs e uma descoberta para os outros.
Estreia a 2 de Julho 2010 nos States, é só mais um ano.

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publicado por santissimatrindade, em 18.08.09 às 21:34link do post | favorito

 

Nos tempos que correm, surpreender um cinéfilo com filmes de terror é tarefa complicada para um cineasta, mas ainda existe algumas excepções como Grace.
 Paul Solet deixou o festival de Sundance sobressaltado na edição de 2009,  duas pessoas desmaiaram ao ver o seu último filme, Grace,  algo que não acontecia há 10 anos segundo o dono do cinema.
Grace foi Escrito e realizado por Paul Solet ,  baseado numa curta do próprio com mesmo nome, realizada em 2006. O filme conta a história de Madeline, uma mulher grávida, que decide dar à luz o filho num local menos urbano e longe dos médicos por causa de energias positivas. Um mês antes do parto, um acidente acaba por matar o bebé. Ela decide continuar com o filho morto na barriga e esperar que a natureza faça o seu trabalho. Semanas depois o bebé nasce, e não está morto.
A trama não é nada extraordinária, no entanto as imagens deste falam por si e irão chocar muita gente, não só porque é um tema sensível, mas também pelo facto de nunca ter sido abordado desta forma.
Grace consegue criar um ambiente tão estranho quanto pavoroso, deixando-nos instáveis e chocados. E eu, tal como Sundance, rendi-me a este conto aterrador e sem pretensões que é Grace.
 

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publicado por santissimatrindade, em 16.08.09 às 02:36link do post | favorito



Os cineastas Jaume Balagueró  (Los Sin nombre (1999) e Frágiles (2005)) e Paco Plaza (Roma santa (2004)), juntaram-se novamente para trabalhar no argumento e na realização da sequela de [Rec],  um dos filmes de terror mais assustadores de sempre e vencedor do Fantasporto 2008. A sinopse é a seguinte: Duas horas após o final do filme anterior, a polícia e médicos investigadores entram no edifício filmando aquilo que será o filme.
Um estrondo de trailler com uma música decrépita e aos berros, ângulos enviesados e dentadas de zombies em primeira pessoa, deixaram-me com uma ânsia de leão. Aguardo intensamente por ver o que realmente nos trará [rec] 2, o filme estreia em Espanha a 9 de Outubro na edição do festival de Stiges 09.
Absolutamente brutesco.

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publicado por santissimatrindade, em 13.08.09 às 18:02link do post | favorito

 

A noite esmorecia-se, reflectindo esguichos de luz que iluminavam os quatro quadrados de uma janela suada de borboto. Um galo canta até se esganar, entretanto vejo atravessar por entre a pálida luz um vulto esboroado e descontínuo. Uma perra farta-se de regougar e um forasteiro de ar cândido apanha as beatas que vão manando pelo chão.
Caminho passeio abaixo, e para meu pasmo, avisto numa ventana entreaberta, uma jovem de gatas, com a cara imunda a escorrer pedaços de dióspiros que esta saboreava sofregamente como porcos a chafurdar na escória, enquanto um macho lhe executa um botão rosa. …São gemidos de cadela que povoam a cidade, umas laureiam os xales, enquanto as mais artistas derramam sobre o chão vómitos de prurido burguês.
Ao passar num pátio, vejo uma matilha de catraios que atacavam com carrapitos uma miúda sardenta de cabelo às riças e purpurinas dentais, pobre menina que tanto bramia.
 Desço uma rua repleta de preservativos viscosos que decoravam o chão como se fossem pega monstros, as paredes pareciam com as dos lavabos de gentalha, mas com um toque pós-moderno decadente… Que gente! Conforme afundava na viela… Ia topando avestruzes e patetas em sintonia simbiótica, entre prazer e narcóticos, avistavam-se a vomição catapultada de um novo mundo submerso. Continuando rua abaixo, na varanda, padecia a pobre Marília, desgraçada, a sua vida era sintonia nas línguas de vadias da vizinhança. Ficou amante do cinto de cabedal que dera de presente ao marido, diariamente o sentia nas costelas … seus gritos entoavam tão intensamente, lembrando os sinos da catedral que aspiram por virgens negras.
O padeiro leva um saco de farinha ao sapateiro, este troca-o por um envelope a um engenheiro de fato esverdeado. As latas de coca cola sobressaiam na prateleira de uma confeitaria, conjugando com vulto de uma mulher ensopada e desprovida de beleza …pobre criatura… espalhava a tristeza pelo esplendor de uma avenida, um autentico acto final de tragédia grega.

-Não existem pobres! Só imbecis!
 Exclamava um sem abrigo ao roubar uma gasta senhora que passeava a sua bolsa e era arrastada pelo seu pulguento. Um polícia tenta intervir, mas é interceptado por uma carrinha que o projecta em direcção à vidraça de um restaurante derrubando o quadro de menus do dia. Isabel deixa o pingo a meio e vais cuscar a concorrência …uma mariposa dissimulada! Pois apesar do seu ar de piedade, desabotoa dois botões da camisa e arrisca sobressair à imprensa. Zaida de orelha em pé, largar o secador e pendura a cliente que se prepara para uma tarde rosada no motel com o cunhado, este e o engenheiro gargalham enquanto se drogam e vêm os vídeos íntimos dele e da cunhada.
 Pássaros passam como fuzis, mas de que fogem? Não bebi …mas sei que vi. Ahahahahah …estou sem ar …não desmaio mas é como se acumulasse camadas de dor uma a uma e não as sofresse. ...Que pavor, que paz …que tormento. E foi mesmo! Durante uns segundos deixei de sentir o corpo. Provavelmente do excesso de nicotina e outros resíduos. Tanta coisa ou nada.
Adoro rosbife de vaca, mas choro ao ver arroz de pato.
Sádico? Trágico? Ou espectador?
Tudo circula e transmuta em seu louvor!
Tudo em torno de perdigueiros que se escoam no mato.
Para assingelar,  basta coçar a vista,  que lhe caia a casa abaixo, quero lá saber!
 É como se nada tivesse acontecido.

Este texto é uma homenagem a Bettie Page .

 

Texto e ilustração: Aurélia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 12.08.09 às 02:36link do post | favorito



Sam Raimi, mestre do cinema de terror, e um dinossauro da sétima arte. Foi o criador trilogia de Evil Dead na década de 80 e 90, assombrou com trillers como Simple plan (1998) e deliciou-nos ao dar a vida à triologia Spiderman, a melhor adaptação  da Marvel.
Este ano regressa com um triller assombroso escrito pelo próprio e pelo seu irmão Ivan Raimi, chama-se Drag Me To Hell, tendo Alison Lohman e Justin Long como protagonistas. Narra a história de Christine, uma jovem que trabalha numa instituição de empréstimos, vendo-se obrigada a dizer não a uma pobre velha que implora por um empréstimo. Por consequência Christine vê-se envolvida numa trama de pragas, com a vida amaldiçoada e transformada num inferno.
Pelas imagens do trailler, parece atemorizador e vindo de Raimi decerto que irá pasmar muitos cinéfilos. O filme estreou em Maio nos States, sendo vergonhoso ainda não se ouvir falar dele por cá, estando certo, de que se fosse outro filme do Spiderman, teria estreado na mesma semana. Tudo em torno das massas.
Sam raimi não para, tem no seu ementário bastantes projectos, a estrear em 2010 The Evil Dead, o remake da sua obra-prima,  em 2011 tem agendado a estreia de Siderman 4 e da adaptação cinematográfica do videojogo Warcraft.

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publicado por santissimatrindade, em 07.08.09 às 03:02link do post | favorito

 

Sentada na tribuna avisto ninhos negros de água benta,
a vomitar heresias de tão empanturradas de cera.
Na janela ao lado, Cândida espreita atenta,
Presumivelmente até o seu cão a deixa á espera.

Como é amargo passar a rotina inundada em cio.
O afazer converte-se em peva, e …olá evasão,
Afago com timidez nas coxas aqueloutro rio.
Leviandade é não poder seduzir o patrão.

Minha mãe a todos assevera que não caso,
Para meu consolo ao menos não acabo sufocada num vaso.
“Deixa a loiça mulher e anda para cama para te montar”,
Parece que ainda ouço, Deus o tenha, o meu pai a rezingar.

Trechos graciosos e vindos do talho deixam-me à cuca.
Apenas quero um sujeito que me massaje a nuca.
Recebo padres, presidentes e ontem dei banho ao coronel

…Porque Entre a virtude e o altar …prefiro a santidade do bordel.


Texto e illustração: Aurélia Maia

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publicado por santissimatrindade, em 06.08.09 às 21:59link do post | favorito

 

Spike Jonze, realizador de Being John Malkovich (1999) e Adaptation (2002), está de volta ao grande ecrã sete anos após o seu último filme. Pôs de novo o universo dos videoclipes de lado e decidiu fazer uma adaptação do livro infantil Where the Wild Things Are de Maurice Sendak.
O argumento do filme ficou a cargo do próprio Jonze  e Dave Eggers, que este ano já escreveu inclusive o argumento para o filme Away we Go, o novo de Sam Mendes.
O filme tem data de estreia para 16 de Outubro nos E.U.A e 26 de Novembro em Portugal, até lá podem deliciar-se com o excelente trailler ao som de Wake up dos Arcade Fire, e com imagens que nos reportam para universos fantásticos de cineastas como Tim Burton, Terry Gilliam ou mesmo Michel Gondry.
Vamos aguardar, contudo estarei certo que Jonze nos voltará a surpreender com Where the Wild Things Are.
 

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publicado por santissimatrindade, em 05.08.09 às 04:41link do post | favorito

 

Ao inicio da tarde daquele dia longínquo decidi sentar-me no terceiro banco do Jardim das Balofas. Sem saber porquê?, dei comigo a fitar um arrumador de camisa aos quadrados e calças blindadas de sujo, este mendigava uns trocos para corroer na rua do Devasso.
Ao aperceber-se que o observava, olhou-me fixamente e coçou o chumaço de ganga azul que sobressaía na carcela das vestes. Eu dissimulei e fingi estar a ler, aquela imagem deu-me um certo nojo que se foi transfigurando e de repente senti-me orvalhada nas partes íntimas.
Perpetuei naquele banco e por instantes parecia que anos se tinham passado, havia em mim um misto de consolo e vergonha, pois jamais imaginava a ter desejo por uma figura tão asquerosa.
Quando voltei a mim reparei que ele deixara de dar atenção aos carros e a depositá-la toda em mim, encaminhou-se em direcção ao arbusto de urze que estava frente ao meu banco e ali parou. A minha alma estava trémula, limitei-me a observar. Reparo que ele olhou em redor, nesse tempo desaperta as calças, saca uma ferramenta vigorosa dizendo-me:
-Queres brincar com ela?
 Eu não consegui dizer mais nada, senão:
- Onde?
Voltou a guardá-la e disse-me:
- Vamos para o parque de estacionamento, que a esta hora está deserto.
As minhas pernas conduziram-me, pareciam saber bem o que eu queria, toda aquela vergonha começou a desvanecer-se como a cidade no nevoeiro.
Chegamos ao parque e não disse palavra, deixei que abusasse de mim como se eu não o quisesse. Desventrou-me no chão, e possui-me pela traseira entre carros e cheiro a pneus. Parecia ter sido invadida por uma overdose de aprazimento, como uma explosão de droga a dispersar-se no meu corpo tumultuando os meus vasos sanguíneos.
Descarregou toda a seiva sobre mim e compôs-se. De repente viu a minha bolsa, abriu-a e despejou tudo sobre mim, pegando um envelope com todo o meu ordenado. Tudo aquilo deu-me outro orgasmo. Ele abriu o envelope e sorriu.
Então eu disse-lhe:
-Espera eu sou casada e o meu marido vai-me pedir o dinheiro.
Ele voltou a sorrir e respondeu-me andando:
- Podes dizer que gastaste o ordenado em pensos higiénicos.
 Assim procedi, o meu marido achou estranho, mas não quis escavar e foi jogar bilhar.
Continuei a frequentar aquele parque, mas nunca mais avistei o arrumador que procurava.
Quando o meu marido me possui, por vezes sou transportada para aquele parque e até sinto o cheiro dos pneus, atingindo o clímax ao olhar para a caixa de Evax.

Texto e Fotgrafia: Aurelia Maia
 

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