da filosofia à ficção, retratando a realidade
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publicado por santissimatrindade, em 28.05.08 às 02:22link do post | favorito

 

 

O cinema francês sempre foi conhecido pela sua ousadia e pela maneira nua e crua como retrata certos assuntos, como o sexo e a violência mas nos últimos tempos fomos surpreendidos com o cinema de terror made in france, como Haute tension, Dead End ou Sheitan.

À l'intérieur é o filme de estreia da dupla de realizadores Alexandre Bustillo e Julien, que já arrecadou alguns prémios e participou em festival como Cannes (07) e Fantasporto (08). O argumento foi escrito por Bustillo , que por sua vez  veio do jornalismo e é um grande fã de slash movies.  Dois nomes a anotarem na caderneta sem dúvida, pois destacam-se pela frontalidade visual, pela sua originalidade e pelo encaixe sonoro que por vezes até nos corrói o cérebro e nos deixa em alerta vermelho grande parte da pelicula.

A premissa é do mais simples (ou pelo menos parece). Uma mulher grávida (Alysson Paradis) sofre um acidente de automóvel onde perde o marido. 4 Meses depois, no final da gravidez recebe uma misteriosa e inesperada visita a meio da noite... O Pior é o que falta para vir.

Esqueçam a palavra cliché. O filme corta com um bisturi qualquer filme de terror tipicamente americano, testando os limites de sensibilidade do espectador. Faz-nos entrar num quadrante onde imagens e sons falam por si mesmo, trazendo uma revolução no novo cinema de terror. A agonia e sofrimento da personagem são levados aos extremos, envolvendo o espectador num ambiente de tensão e de espectáculo visual, tanto como perturbador, com certas discrepâncias visuais. Não é um filme para qualquer um, principalmente para grávidas, mas é sem dúvida ouro para os amantes do terror e suspense e para outros curiosos também.
Os efeitos sonoros são de arrepiar o mais destemido, parecendo estar em sintonia com as nossas batidas cardíacas, fazendo-nos participar do filme á medida que este acelera ou faz uma travagem brusca e nos corta o fôlego. Um Horror Movie elevado ao expoente:  Terror duro e puro.

Posso confessar que para mim é dos melhores filmes do género que vi este ano, só é pena que cá por Portugal não estreia e vai directamente para DVD,  mas têm coragem de estrear filmes como White Noise 2 ou mesmo comédias medíocres como Meet The Spartmans entre tanta sucatada que estreia nas nossas salas. Enfim…

 

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publicado por santissimatrindade, em 28.05.08 às 02:17link do post | favorito

 

Esta populaça enoja-me em quase todas as suas manifestações. Todavia, nenhuma delas me repugna mais do que aquele espírito nacionalista com que os portugueses se vestem sazonalmente por alturas dos grandes campeonatos de futebol.

A esperança de um povo sem vitórias, em vencer o europeu, expressa neste triste circo de bandeiras penduradas e directos na tv magoa-me a estética. O povo, sempre subjugado por um sistema hostil, entrega-se de alma ao futebol não só como entretenimento mas acima de tudo, como potencializador de sentimentos de vitória individual ou nacional ou patriótica.

Sabemos quão poucos são imunes a este patriotismo de merda com que nos querem contaminar o sentimento. Sabemos que o fenómeno não é novo, mas como português, dá- me um nojo crescente em cada campeonato, toda esta diarreia nacional.

Se o nível de consciência de uma dada sociedade, fosse determinado a partir da avaliação dos objectos de prazer da maioria, a sociedade portuguesa revelar-se-ia bruta, destituída de imaginação e vulnerável á aculturação manipuladora de quem manda.

Assim... Não vamos lá...


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publicado por santissimatrindade, em 27.05.08 às 05:01link do post | favorito


Treze de Maio, o santuário enche-se para ver passar Maria. A fé na plenitude da sua manifestação, o mistério e a esperança, milhares de crentes num rito único até á expurgação última da angústia de estar vivo.
O que é que faz com que ainda hoje, tantas almas acreditem na aparição metafísica de Maria em Portugal, a Imaculada mãe do Profeta Evangélico, que aparece na história sob o disfarce de messias? Convenhamos, estas pobres e infantis almas, quanto mais as tento respeitar, mais me dão vontade de rir.
Qualquer argumento racional contra este embuste, esbarra imediatamente na teimosia daquilo a que chamam fé. Mas Fátima veio para ficar, está maior, mais bonita e com mais fiéis. Há gente que vem de longe, mais fiel ao mito que a si mesma, para rastejar sua miséria nos corredores da nova catedral.
Até quando esta necessidade de muletas simbólicas para os nossos medos mais originários?
Até quando estes vícios mitológicos para esconder uma razão envergonhada da sua incapacidade?
Caríssimos fiéis, enquanto aguardais a redenção na sala de espera da mentira, alguém se alimenta da vossa triste fé.
Acordem!

o meu ego está:

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publicado por santissimatrindade, em 27.05.08 às 00:48link do post | favorito

 

Teresa não era uma mulher qualquer! Teresa era a divina das meretrizes, sombreando-se por caminhos derretidos como ouro na sua forma mais pura, era mulher e mãe. Era a mulher!

Era mais que corpo, não era vender, era um patrocinio em que o seu ser deixava de ser seu e passava a ser comum. Era uma troca. Banal.

Falemos de trocas.

Até onde é capaz o errante humano caminhar para se sentir satisfeito, sem necessidades? Qual será o grau de satisfação máximo para a alma? Trocar é dar e receber. Trocar é comprar e vender. Trocar é jogar. Trocar é contratar. Trocar por um preço! Qual o valor que merecemos? Até que ponto estamos dispostos a ir?

Trocas era o que não faltava naquela mansão burguesa do séc XVIII. Teresa era mãe de 2 filhos, Jacques e Stephanie. Teresa era viúva de um conhecido duque da nobre invicta. Teresa era responsabilidade em si mesma e há muito que não deixava por menos o dom de ser protectora. Por vezes e para equilibrar o culto dos excessos e da boémia tinha que se ser um pouco astuta. As festas revolucionárias que os condes davam eu seu nome, e com seu dinheiro diga-se, não se pagavam sozinhas... Não era assim tão árdua tarefa...

Teresa foi capaz de corromper seus valores, não se sentiu satisfeita em seus desejos. Ela quis mais, quis melhor e quis mal... Foi o espéctro de toda a sociedade actual, quis emergir em toda a sua potência, quis se juntar á nata real. Não se vendeu! Concessionou...

É notório até onde somos capazes de ir e nada afectará a noção que o nosso valor nunca será suficientemente reconhecido. Não para nós! Não no passado. Não agora! Deixar para trás séculos de tradição aristrocática e cristã, educações ao nível da perfeição, prestigio puro só de ler o Sobrenome não foi fácil. Mas foi feito. Porque era menos penoso Teresa açoitar-se com os nobres do que vender as pratas da familia. Seria uma ínfame. Assim é apenas uma mulher. Do mais feminino que temos encontrado.

Somos capazes de tudo. Somos capazes do mal. Somos capazes do impensável. Sabe bem. É vertigem, é  velocidade. Por muito que tentemos padronizar toda a gente, seremos seres portadores do géne do poder, do estatuto, da competição, da ambição desmedida. Somos capazes de matar e morrer, de roubar e depois desaparecer. Somos nós. E adoramos.

Teresa não era uma mulher qualquer! Teresa era a divina das prostitutas e gostava!
Não gostamos todos?


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publicado por santissimatrindade, em 26.05.08 às 00:28link do post | favorito


 

Há uma quantidade de textos inacabados que aclamam por enigmas e arrastam consigo um pouco de cinzas acabando por nos fartar ao nos asfixiar a dor. Já em redor tudo parece equacionar-se ao nada, carrego no botão de pausa trazendo então alguma tranquilidade, que por sinal é apenas metódica ou mesmo metafísica. Debaixo de uma escada encontro uma passagem para um campo de cereal, onde espigas transbordam pela cana de milho acima, exibindo a sua inflorescência indefinida, até que o sol lhes tire a virgindade com o penetrar dos raios, e lhe dê por fim o propósito da sua existência. Peça a peça em torno de seu eixo, vai perdendo o efeito das gramíneas, encontrando-se agora perante um deus que não perdoa e seu destino é tão indefinido como propício, quase como estar em penitência de costas para o rio e morrer de sede ou afogado na areia.

Catapultando vozes que me amedrontam põe-me em direcção à metrópole da desgraça, onde se estendem carcaças cobertas de lava e caos humanos em cada pormenor, o desterro pelo qual passamos é nada igualado ao infortúnio a que criamos em torno do mundo. O homem criou e arrastou miséria e desgraça atrás de si, não se contentando em destruir o planeta 5 querendo expandir-se por todo o universo. A vontade do homem é insaciável em todos os campos a única maneira de o parar é só mesmo o apocalipse. E a este ritmo o humano não vai precisar de uma graça divina para ter um apocalipse, pois ele próprio tem cavado a sua sepultura.


O bímano anseia pelo fim do seu propósito.





 

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publicado por santissimatrindade, em 24.05.08 às 03:03link do post | favorito

 

Mesmo correndo o risco de coincidir com certos movimentos revivalistas do momento, sugerimos uma passagem pela cultura francesa do início dos anos  70 - pós Maio de 68 - através da leitura do romance de Robert Alley “O último tango em Paris” e posterior visionamento do filme de Bernardo Bertolucci no qual foi inspirado. Trata-se de um daqueles casos em que um filme inspira um livro.
Em 1973, o filme com Marlon Brando e Maria Schneider, provocou ondas de indignação nos sectores mais conservadores da sociedade europeia, chegando mesmo a ser proibida a sua exibição em alguns paises dos quais se inclui o Portugal do ainda estado-novo.

Numa França cuja juventude gritava pela remodelação de todos os valores herdados numa nova atitude face ao conceito de liberdade, "O último tango em Paris” cai como pedra no charco de um conservadorismo cada vez mais ameaçado. A inquietação provocada por este filme prende-se á primeira vista com o seu conteudo erótico, de onde se destaca a famosa cena da manteiga, no entanto, nós na santíssima trindade, temos outra opinião. O filme convida-nos á dissecação das imperceptiveis e intrincadas pulsões que estão na base do processo de desejar o outro. O que é que está a actuar em nós quando nos sentimos atraidos sexualmente por alguém? Porque é que Janne deixa de desejar Paul quando este se lhe revela tal qual é, um homem falhado e sem destino no peso agora visivel de uma meia idade decadente, viuvo por suicidio?

No fundo o filme é uma provocação ás ideias feitas sobre a relação entre o amor e o sexo, é o confronto com o preconceito cómodo da suposição de uma supremacia ontológica do amor sobre o sexo e da subordinação deste a mera expressão daquele, concepção segundo a qual se baseia toda a cultura judaico-cristã e na qual assenta muito bom casamento.

Nós por cá, estamos noutra…

Leiam o livro, vejam o filme e escrevam para discutir.


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publicado por santissimatrindade, em 22.05.08 às 01:09link do post | favorito


 

Em direcção a saída

O desabrochar de uma flor, torna-se propicio ao meu caminhar,
Rodopio em torno de mim, como se num polvorinho estivesse a latejar.
Debaixo da figueira, existe uma esfera lunar com vontade de se saciar
E cães uivam e enroscando-nos em presságios apocalípticos vindos do altar.

Jarras de água com desenhos tépidos e tétricos, e eu só ouço os mortos a ganir,
Vejo na minha voz cilindros que alisam a minha dicção, e beatas no altar a cuspir.
Ondas electromagnéticas do verde prado e padres absorvidos e afogados no pecado
Julgam-me por afrontá-los com verdade, eu ponho as mãos e sorrio-lhe de bom grado.

Num futuro distante, tiro um bloco de notas para anotar as desgraças
e a lucidez é um estado em vias de extinção e já ninguém liga ás massas.
Já só me resta uma bala, aquela que pretendo alojar no crânio e acariciar,
depois ouço uma erupção vulcânica adormecida que caminha sobre mim  a levantar.

Até que o desabrochar das consequências, transmite sinais apagados num xisto….
Afinal quem sou eu? Afinal quem és tu? Eu? Não sou eu, pois não existo.
 

 

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o meu ego está:

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publicado por santissimatrindade, em 21.05.08 às 14:19link do post | favorito




Animação autobiográfica e realista


Persepolis é a história de uma criança que cresceu no Irão durante a revolução islâmica. É um registo autobiográfico de Marjane Satrapi que deu origem a 4 livros de banda desenhada. Agora é apresentada em forma de longa-metragem de animação. Realizado pela autora da obra e Vincent Paronnaud, Persepolis tem um argumento inteligente e realista, é apresentado sob forma de desenho animado ultrapassado (ao estilo anos 70), polido com um toque alternativo que sem dúvida o transformam num filme de culto e nos melhores filmes de animação de sempre. Participou em vários festivais de cinema arrecadando prémios e deixando sempre a marca, foi inclusivé nomeado para o Óscar de melhor filme de animação que perdeu para Ratatoille.

A destruição da esperança de um povo vista pelos olhos de uma miúda de 9 anos de idade, a tomada do poder pelos fundamentalistas, as mulheres forçadas a usar o véu, prisão de milhares de inocentes. Apesar de toda a repressão, Marjane consegue descobrir um pouco de cultura punk (proibida) como Iron Maiden, Abba, Michael Jackson, etc. Durante a guerra com o Iraque, e também temendo pela sua rebeldia os pais mandam-na estudar para a Áustria onde é confundida com o fundamentalismo religioso a que fugiu do seu país, entre outros episodeos marcantes.

Um filme astuto, comovente, cheio de humor sobre a imperícia, a intolerância e a força de pessoas que continuam numa a luta pela diferença e pela liberdade. Existem filmes que marcam a diferença, este é sem dúvida um deles.

Quanto á sua estreia para breve ainda não esta agendada, de qualquer modo há sempre maneira de ver o cinema que queremos, recomendo a 100%. Comova-se e surpreenda-se com esta magnifica história.

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o meu ego está:

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publicado por santissimatrindade, em 13.05.08 às 01:20link do post | favorito

 

Malicia e crueldade em estado puro.

O Austríaco Michael Haneke (realizador) sempre teve olho para a sociedade crua e moderna, documentando as suas falhas. O seu cinema é capaz de mostrar ao espectador todo aquele medo que passamos no quotidiano das nossas vidas…
Em 1997 presenteou-nos com a pérola Funny Games, um thriller cheio de drama, terror e agonia caracterizado por toques suaves de subtileza, tornando-se um marco na sua carreira. O medo é sem dúvida uma das componentes da filmografia do realizador (Caché, La Pianist ). Haneke gostou tanto da experiência que 10 anos depois faz o remake do seu próprio filme e traz-nos agora Funny Games – US.
Quem gostou da primeira versão deste thriller vai sem dúvida abraçar a segunda. Além da realização estar a cargo da mesma pessoa, estamos perante um elenco central assombroso (Naomi Watts, Michael Pitt, Tim Roth, Brady Cobert…) tal forma capaz onde as interpretações são elevadas ao estado de graça da perfeição, principalmente a incarnação na dupla de sóciopatas que levam o espectador a entrar num jogo tanto de irónico quanto o de malicioso, deixando-nos uma espécie de prazer mórbido.
Um filme violento e dramático que vai aos confins da alma humana colher malícia e crueldade em estado puro. Os diversos diálogos tornam-se ironicamente alucinantes criando sentimentos de omnisciência pelos sóciopatas presentes no desenrolar do filme, fazendo o espectador agonizar emocionalmente como se fosse a própria vítima, transportando-o para a génese da dicotomia ficção-realidade, nem sempre facilmente diferenciável.
Pode ser que desta vez o continente Americano volte os olhos para o aclamado realizador Michael Haneke.


Filme a não perder!
 


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publicado por santissimatrindade, em 13.05.08 às 01:10link do post | favorito

 

Da matemática ao mistério.


O Fantasporto de este ano teve cinema espanhol em peso que detonou completamente na atribuição de prémios. Um dele foi La Habitacion de Fermat (O enigma de Fermat) que  arrecadou o Méliès D’Argent na Semana dos realizadores e melhor argumento na Secção Oficial Cinema Fantástico.
Argumento e realização a cargo da dupla Luis Piedrahita e Rodrigo Sopeña, vinda do mundo televisivo e que se estreia pela primeira vez no cinema com este fantástico puzzle repleto de matemática.

La Habitacion de Fermat parte de uma premissa nada complexa: ao responder certo a uma carta (enigma), quatro matemáticos são convidados para irem passar o fim-de-semana a tentar resolver ao que o enigmático Fermat, autor da carta, chama “o maior mistério matemático de sempre”. Chegados ao ponto de encontro os matemáticos descobrem que estão encurralados numa sala onde as paredes começam a encolher em função do tempo de resposta que demoram a resolver os enigmas que lhes são enviados por PDA. A cada instante que passa começam a aperceber-se que existem elos de ligação entre eles, mas o que terão em comum?!.
Ainda que nos recorde de Cube e Hipercube, é apenas momentâneo pois a repercussão deste é bem diferente, coincidências, traições e a rotação ou reviravolta final tornam este filme delicioso. O Argumento incorpora a matemática reforçando o ambiente de mistério que ao longo do filme joga com as personagens e com o espectador quer ele goste ou não de matemática.

A dupla decidiu arriscar ao fazer um triller misterioso onde a matemática seria o epicentro, mas a receita soa muito bem, a ponto de estimular o espectador a entregar-se e ceder á matemática, até porque está presente em tudo que nos rodeia. O filme torna-se numa espécie de exercício mental bastante cativante e o mistério acompanha o filme em grande parte tornando-o intrigante. E apesar de no filme notarmos que falta polir algumas arestas, o trabalho da dupla tem que ser reconhecido. e cá eu fico a aguardar o próximo filme.

Recomendo mesmo…
Em estreia  esta semana.
 


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